Sobre os carros

A cidade de São Paulo vive em função dos automóveis. Os carros são a prioridade do governo, das políticas governamentais, das pessoas. A vida paulistana gira em torno deles, eles dão sentido ao cotidiano de lazer e trabalho. Seus primos pobres, os ônibus e metrôs, são nada mais do que sombras de seu poder, mendigando por uma fatia do bolo que nunca foi deles. Trânsito e recordes de congestionamento são intrigas da oposição, tentativas ineficazes e covardes de responsabilização da parte pelo todo, na forma de argumentos falhos voltados para desmoralizar os carros em toda a sua glória. Por isso, nada mais justo que assumir essa condição, incluindo novas formas de adaptar o ambiente e a cidade para eles.
Eis algumas sugestões para melhorar a qualidade de vida dos carros na metrópole. Nota-se que já existe um Cemitério de automóveis, por isso sugerimos um spa de automóveis! Nele haveriam sessões ininterruptas de funilaria e pintura, a cada 30 minutos, com banhos de óleo nos finais de tarde; o polimento ficaria a cargo de modelos lindíssimas, utilizando esmalte e tinta polinésia acrílica em material reciclável. As garagens-quarto viriam ambientadas e perfumadas com o mais alto padrão de fuligem sintética. Médicos pós-graduados ficariam a cargo de medições diárias de radiador e motor, enquanto aos enfermeiros restaria a calibragem dos pneus. E ainda contariam com alojamentos para os motoristas, com café-da-manhã e chuveiro inclusos. O custo desse projeto seria bancado pela Prefeitura, em consórcio com a Ford Motors e a Ford Models.
Eu fiz a minha parte como cidadão e sugeri uma melhoria à qualidade de vida dos automóveis. Agora, convoco os colegas leitores a continuarem as sugestões, com novos projetos. Sugiro uma temática atual, a sexualidade como parâmetro das relações sociais e afetivas: como os carros poderiam lidar melhor com seus parceiros, sem que fomentam sua autofagia?

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