a Amazônia e os shoppings de Luxo

Enxertos de uma peça baseada em fatos reais:

a) conversa de um velhinho curioso num shopping de luxo

"Quanto custa a gravata? 15 mil reais? Mas de que material é feita? Ah, sim. Então está incluso o serviço de manufatura? E a mais valia? Compreendo. E mais o custo do aluguel e condomínio do shopping, né? Ah sim, as árvores de jacarandá no pátio principal encarecem...Sim, as árvores são caras e dão todo o tom luxuoso ao espaço. Qualidade de vida, ambiente bucólico dentro da metrópole! Ótimo! Sim, concordo. Sem dúvida! E as madeiras têm certificação ambiental? Isso é necessário, sem dúvida. Mas o seu gerente não saberia informar? Ah, sim, não se preocupe. Aguardo sim. Ah, elas vêm da empresa do sr. Mairo Blaggi? Que coincidência! Ele cuida mais das madeiras sem certificado. Mas hoje em dia essas empresas fazem de tudo né?"

b) relato de um sonho de um ex-estudante de agronomia

"Vejo tudo verde. A neblina é verde-clara. A mata verde-escura. Minha mão é verde-limão, mas acredito que seja por causa do reflexo da lua em lusco-fusco, que é verde-musgo. Uma menina com 12 anos surge saltitando. No braço, algumas pulseiras de ouro. Na sua camiseta, há uma foto com o nome 'Mairo Blaggi'. Olho para o rosto na camiseta, e então viajo para um dia quente no meio do cerrado. Há apenas uma única árvore, um arbustro. Crucificado nela, está Mairo, vestindo uma cueca verde. Ele sua em bicas, reclamando do sol em sua face. Um cantor de rock fuma cachimbo ao seu lado, e responde pacientemente às suas reclamações. Diz que aquilo era um castigo, por causa dos desmatamentos que ele causou, e que todos os pêlos do seu corpo foram depilados para ressecar a sua pele a refletir o solo desnudo causado pelo desmatamento. Acordo assustado e com frio. Pego um bife de soja frito que dormia ao meu lado na caçamba. Devia ser de um dos bóias-frias. Coloco ao lado do travesseiro para me aquecer, e volto a dormir."