Carnaval e Mulatas
Eu nunca escrevi sobre Carnaval ou mulatas.
Nada pior do que escrever reflexões literárias em pleno Carnaval, quando ninguém nada lê...Mas nada melhor do que ser um escritor teimoso.
Pois bem, há quase trinta anos eu acho o Carnaval algo estranho. Nunca o compreendi muito bem, não consigo simplesmente sambar sem pensar, sem perceber um signo filosófico na coisa - municiem-se, epicuristas!
Minhas humildes conclusões até o momento esclarecem que o carnaval é a democracia social plena, e a anarquia emocional plena. Para maiores esclarecimentos procurem quaisquer teses científicas de Tim Maia, Jorge Ben, Luiz Melodia etc.
E como analisar o carnaval sem falar do seu símbolo? Quem pensou em bílis ou sífilis, errou. O símbolo máximo do carnaval é a mulata. Óbvio e elementar. Mas vamos analisar melhor esse símbolo cultural tão primordial:
- a mulata é a verdadeira ombudsman do samba, pois envolve homens e mulheres, velhinhos e crianças, desdentados e coxos, de todas as raças e religiões;
- ela é autoridade soberana em todo o mundo, subordina-se apenas ao mestre de bateria e ao pai de santo (se estes não coincidirem na mesma pessoa);
- foi capaz de desenvolver toda a cultura popular brasileira, desde festas de faculdade paulistanas, até danças do pulacobra do Acre;
- sua dominação sócio-psico-mental-espiritual deriva simplesmente de seu poder nadegal.
No entanto, o que é uma mulata? Porque nem toda pessoa de cor parda, que tecnicamente é uma mulata, não é uma mulata? Porque hoje em dia encontramos loiras mulatas? O que as mulatas fazem quando não estão sambando? Como poderemos reconhecer mulatas no dia a dia, andando vestidas pela rua? Afinal, quem realmente é a mulata?
Chego a acreditar que tudo isso não passa de fraude. Algum braço da teoria da conspiração, numa forma de domínio hormonal coletivo. Um símbolo de efetivação da cultura brasileira.
No Brasil, a mulata; nos EUA, o papai noel. As similaridades: vestimentas típicas; endemismo; encontrados apenas numa certa época do ano; sorridentes e benevolentes; fonte eterna de empregos; as mesmas cores (se há sangue na mulata); doadores de presentes para adultos e crianças.
E qual o presente que a mulata distribui?
-- o gozo máximo efêmero motor de toda a humanidade --
1 Comments:
Aí, Leco!
Mandou bem!
E eu, MULATA QUE SOU (simplesmente porque assim se convencionou chamar os filhos de brancos com negras), posso te dizer que adorei o texto!
E as mulatas loiras, mulatas morenas, mulatas mulatas, mulatas negras etc. correspondem àquela "loira burra" cantada a plenos pulmões em todo país nos anos 90: é uma praga e está espalhada por aí. No Carnaval, proliferam e é até possível se ver racistas convictos agarrados à cintura de alguma!
O que eu realmente lamento MESMO é o papel não apenas relegado à mulher mas ao qual elas se prestam quando encarnam esses personagens (que, na verdade, podem ser encarnados o ano inteiro: basta vc saber o lugar certo onde elas circulam -- acredite, fora do Carnaval elas ainda estão por aí; estranha "fruta do desfrute" que dá o ano todo!).
Eu, honestamente, me aborreço, pois alguns teimam confundir o tom da pele com a ousadia "nata" das ditas "mulatas", e me aborrecem na rua, nos bares, achando que "ali está um ser caliente de sexo bom e fácil". E haja jogo de cintura pra provar que focinho de porco não é tomada! (ou mandar todos pra PQP, sem a mínima cerimônia! -- risos)
Enfim, gostei muito do teu texto; veio na hora certa!
Beijos pra vc!
obs.: adorei a comparação da mulata com o Papai Noel (risos). Eu preferia ser confundida na rua com o Papai Noel! Pelo menos, a parte da casa relacionada a ele é a chaminé e não a cama! Ademais, se alguém me enchesse a paciência, eu poderia "mostrar o saco" (risos)
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