terça-feira

CENAS ESTRANHAS DENTRO DA MINA DE OURO

Ando apressado na rua. "Porque estou sempre apressado?". Olho duas, três, sete garotas realmente bonitas em questão de minutos, perambulando com roupas sérias de trabalho que tentam camuflar seu sex appeal. O sol bate nas minhas costas numa tentativa vã de secar o suor colante de pele e camisa. "Porque não estou de chinelos na praia?". O sapato aperta o dedo, que responde com proeminentes bolhas. Vejo pessoas chorando, rindo, sorrindo e simulando algum outro desejo, no grande carnaval de emoções humanas da avenida. Olho para o alto, sou surpreendido por outdoors e mil informações esparsas que pertubam meu subconsciente. "Malditos publicitários e sua semiótica!". Encontro casualmente um amigo. O ônibus interrompe um diálogo que não vingava. O bilhete Único come dez minutos restantes do prazo de validade, sem nenhuma explicação. "Deve ter dado pau no computador central...CTRL, ALT, DEL nele!". O sonho épico-pãodurista de cinco transportes em duas horas vai por água abaixo, ou melhor, catraca abaixo. Pessoas conversam calmamente no ônibus enquanto eu bafo de calor. "Estarei tão gordo assim?". Desço, ando, entro, saio, ando, volto, olho, reclamo e volto. Dessa vez, volto a andar. Menos apressado, mais suado. O sol continua. "Tende piedade de nós, ó magnífico Astro-Rei!". Continuo a andar, quando noto ao meu lado uma moto andado calmamente na calçada. Marcha lenta, pose confiante, trânsito na rua, espaço na calçada. Senti-me invadido no direito de pedestre. No direito de ir e vir, no direito à vida, e outras palavras bonitas da Constituição. Os homens-cocô, vulgos marronzinhos da CET, estavam tomando um cafezinho em algum boteco. Enquanto isso o motoboy desviava apenas dos casos mais prováveis de choque, como certas pessoas de costas, crianças correndo, cachorros com muleta etc. Quem vinha de frente a ele desviava como se este fosse um enorme homem gordo que ocupava um grande espaço na calçada, e nada mais. Quem estava ao lado olhava com repreensão, o que o motoboy respondia como todo bom motoqueiro, com folga e ameaças."Alguém tem uma Born to be Wild para o rapaz aqui ao lado?". Imaginei um 'autêntico' motoqueiro rico em sua Harley Davidson discutindo com ele: "Veja bem, rapaz, assim você queima o filme da nossa facção, fazendo besteiras na rua, coisa e tal"!. No final, ele pagaria uma cerveja e o motoboy contaria alguma lorota sobre este encontro para os amigos. Sol, mulheres arrogantes, pés doloridos, roupas de trabalho, pessoas, pessoas, trânsito, e motos na calçada. Uma combinação que bem poderia chamar "virado à paulista 2". Nisso, uma mulher de óculos desproporcionais me pergunta as horas. "Hora de ir embora, minha senhora!"
Ode Aleatos.

(Por sinal o título é uma homenagem ao The Doors, famosa banda de apoio do poeta contemporâneo, e vocalista nas horas vagas, Sr. Jim Morrison.)