sexta-feira

A VIDA SOCIAL DOS CÃES E HOMENS

São Paulo explode-se em cães de todo tipo: pequenos, médios, gigantes, de porcelana, de pêlos, de casaco...um grande sucesso de vendas, seja para o pet shop, seja para a indústria de sabonetes!
Os cães tornaram-se uma referência social, econômica e ideológica. O passeio com os cães, um hábito; o seu uso para diversos fins pessoais, uma constante.
Numa cidade perdida em desaforos cosmopolitas e desumanidade negocial, os cães tomaram as funções de congregadores sociais. Através de sua simpatia e beleza, os simpáticos animaizinhos fazem-nos conversar na rua, sermos gentis, praticarmos gestos fraternais.
Tudo isso seria belo, não fosse o modo errado como se faz.
Sendo os cães companheiros e co-adictos dos humanos, eles deveriam servir de auxílio para o contato entre as pessoas; no entanto, eles são os próprios sujeitos desse contato, reservando-nos apenas a posição coadjuvante. Afinal, quem como eu não sofreu o desprazer de ter seu cão agraciado e cumprimentado na rua, enquanto você passa formalmente despercebido? São raras as vezes em que os transeuntes que alegram-se com seu cãozinho lhe dirigem o olhar, o sorriso, a palavra. Os cães são o centro único das atenções, e exclusivo.
A culpa não é dos cães. Nem dos pet shops. A culpa é dos modos de viver da ansiedade paulistana, com pílulas de convívio opondo-se ao massacre dos compromissos, do individualismo. Será que trabalhamos demais? Ou apenas temos medo de falar com o próximo?
Talvez hoje em dia seja “correto” dialogar com pessoas desconhecidas apenas se o lugar ou oportunidade são convenientes: negócios, informações, baladas, palestras...Impessoalidade e interesse. Apenas.
Ode Aleatos.