quarta-feira

Um dia para não ser esquecido

Hoje escrevo como jornalista.
Minha pauta: a eleição do primeiro presidente negro dos EUA.
Pois bem. Vejamos.
E o que um rapaz latino-americano sem laços culturais com os EUA pode dizer sobre isso?
"las implicaciones son profundas, esto és uno momento único en la Historía."
Nós, aqui da terra brasilis, lugar controverso, onde na teoria não se admite o preconceito racial, notamos o baiano como elemento pejorativo; o negro como objeto de piadas; o negro como campeão estatístico do desemprego e mendicância. Quando tu, leitor, andares a pé na rua, esqueças o celular por um minuto, e notes a comprovação desses dados logo ali ao lado.
Se aqui o preconceito persiste de uma forma velada, com efeitos danosos "não-oficiais", como será então nos EUA, onde a convivência não é regra, onde reina o individualismo, a segregação, onde não há hospitalidade ou tolerância? Lá, houveram guerras pelos direitos civis, por liberdade; as guerras terminaram há apenas 40/50 anos atrás, permanecendo no entanto uma paz tensa nos estados mais fascistas do EUA, o chamado "cinturão bíblico" (belo nome, muito sugestivo da dinâmica social). Pessoas morreram, mártires nasceram, movimentos culturais floresceram usando também dessa bandeira.
A coisa lá é muito mais grave. O preconceito racial tem força total.
Por isso que a eleição de um negro é histórica. A mudança de mentalidade, a aceitação, a oportunidade de uma pessoa mostrar que a cor da pele não é requisito para nada.
Num dia longinquo todos acharemos essa discussão um conjunto de banalidades. Por ora, nessa condição mundana variada de pensamentos e opiniões, só nos resta comemorar essa mudança de mentalidade, de atitude, de viés.
Meus cumprimentos especiais a todos os mestres do blues, jazz, soul, por mais essa vitória: Ray Charles, Robert Johnson, Otis Redding, B.B. King, Stevie Wonder, Little Richard, Aretha Franklin, Miles Davis, John Coltrane, James Brown.